Battle Royale (livro/mangá e filme)

Surpreendentemente da GloboLivros. Mas o material deixa inúmeras editoras de "renome" no chinelo. Material bom, capa com textura. Grande, mas pode ver sem medo, que simplesmente foi feito pra ser devorado!
O livro
O Battle Royale é um programa do governo que reúne uma turma do último ano do ensino fundamental (9° ano) para… todo mundo se matar e apenas um pode sobreviver.

Tem algumas regras que acabam incitando a discórdia. E a pessoa é praticamente obrigada a segui-las se quiser continuar viva. Então não dá muito pra ficar “não vou fazer parte disso”.

Algo surpreendente é que vai ter estudante querendo “competir”.

Quando se começa a leitura do livro você vai ver uma lista com todos os estudantes. E pensa logo, para ocidentais, que tanto nome difícil e não vai ver diferença.

Porém o autor vai desenvolvendo os personagens e você acaba gravando. Mesmo se não souber vai lembrar da situação.

Inicia com a icônica imagem dos alunos sendo levados para uma excursão no ônibus. E depois são dopados. Acordam numa sala já com as coleiras e o instrutor símbolo de inimigo, Sakamochi.

A história é referida como um governo autoritário e o país é chamado de Grande República da Ásia, certamente o Japão. Esse lugar é fechado do resto do mundo. Há um controle do povo. Não se pode ouvir rock, internet é limitada etc.

Há um grupo de protagonistas, mocinhos. Principalmente o Shuya, Noriko e Shogo.

O Shuya e a Noriko infelizmente não são uma dupla de heróis louváveis. Talvez pela idade. São bem fracos e insossos. O Shogo pela experiência é muito mais importante.

Embora o Shuya seja o herói na história, infelizmente tá pra representar mais a rebeldia, o rock e a liberdade. Tem pouco poder quase durante toda a narração.

Outros personagens que se destacam no geral são a Mitsuko. Moça “apressadinha”, na verdade ela tem um passado triste que vai justificar tudo o que tava fazendo.

E o Kazuo. O Kazuo é o vilão dentro do jogo. Um garoto muito inteligente. A inteligência dele parece torná-lo frio. Mais estranho que isso é que não se sabe sua história.

Os outros personagens são apresentados. Mesmo se a história deles for curta, tem alguma relevância.

Se você for fã de anime/mangá de ação e tá lendo qualquer coisa muito chata. Leia Battle Royale que a sua mente vai ser desintoxicada. O livro é tão bom que não dá vontade de parar. Você sempre quer saber o que tem na página seguinte, na outra e na outra. E mesmo sendo um livro “grande”, você lê rápido, rápido.

Leia Battle Royale!




"Olá, turma! A aula de hoje é 'todo mundo se matar'!"
O mangá
O mangá é um complemento do livro. Caso você leia o gibi direto a experiência vai ser totalmente diferente e ainda por cima vai estragar o primeiro texto!

Foi lançado pela Conrad, quase sem concluir, no entanto o fizeram, mesmo com toda crise que a editora passava. Infelizmente o título tem um acabamento horroroso, que só é melhorado nas últimas edições. Mangás antigos, às vezes, tinham um encadernamento que deixava totalmente a desejar. Caso não tenha o devido cuidado, o mangá se solta todinho, as páginas se descolam. Acontece que o material muitas vezes é tão ruim, que nem com o extremo cuidado se evita.

Ilustrado pelo Masayuki Taguchi, é impossível não ter gosto pelos desenhos. O traço do autor é perfeito, muito expressivo. Os personagens estão constantemente chorando. Afinal é um choque levar uma vida comum e do nada ter que matar os colegas, sem contar de ter que vê-los mortos.

O livro mesmo não tendo uma ilustração sequer além da capa (aqui no Brasil) - que bom que não tem uma ilustração! - mostra violência gráfica, descreve as mortes, o estado dos cadáveres, realmente pesado.

O mangá não ia ficar atrás, sangue pra todo lado, corpos baleados, feridos e tudo. Por ser mangá, as possibilidades são praticamente ilimitadas. Então usam de imagens pra mostrar o que quisesse, espécies de alegoria, desenhos de demônio, pra mostrar um pensamento, ideia.

O quadrinho é bem adulto, principalmente pelas cenas da Mitsuko Souma. Não só dela, mas muitas vezes pelas cenas de garotas, cheias de erotismo. As imagens da Mitsuko Souma são mesmo “explícitas”, parecem até que você está lendo um hentai. Só não é totalmente pois há um tipo de censura, os genitais quase sempre são cobertos por uma “luz”. Aparentemente os japoneses ainda não são liberais em relação a isso, pelo menos até um tempo (ou então foi por causa da Conrad).
Mitsuko Souma quando surge no livro é uma pessoa tão cínica que tem a capacidade de chorar somente para tirar vantagem!
Apesar do clima adulto ainda fizeram aquelas cenas básicas de aventura shonen. Pessoas alegres, humorzinho bobo. Mas… faz parte.

A graça de ler o mangá é que você vai ver inúmeras histórias que não acontecem no livro. É claro que no livro foi preciso acompanhar um ritmo, caso contrário ficaria muito espalhado, sem unidade. Até o Kazuo, que não se sabe nada sobre o seu passado no livro, tem a história revelada.

A edição da Conrad vinha com um ótimo extra em várias edições. Um bate-papo entre o autor do livro e o ilustrador. É bom pois dá pra ver além do clima pesado como cada um pensou em relação à Battle Royale.

O Shuya Nanahara no mangá tem um pouco mais de dinâmica. Embora no livro seja muito sem graça, no quadrinho é realmente uma pessoa bem contagiante. Dando um pouco mais de razão pra ser o protagonista.

Shogo no livro é alguém mais suspeito, o leitor não confia. Mas no mangá não foi expresso muito isso.

Kazuo ficou muito bem representado. Ele é a frieza em pessoa. Os olhos dão até um arrepio de tão inexpressivo.
Kazuo Kiriyama é o cara! O mais inteligente porém muito frio!
Um fator estranho no mangá da Conrad é que o responsável por apresentar o programa aos alunos tem outro nome, no livro é Sakamochi, já no mangá sabe lá porquê tem o nome de Yonemi Kamon. E ele é bem nojento.

Outra curiosidade, não dá pra saber se foi um erro da editora ou na publicação original isso acontece, é que os alunos são do 3º ano do Ensino Médio, o último. Nas edições lançadas aqui no mangá algumas vezes é referido como 9º ano do Fundamental, principalmente na sinopse da capa. Porém na história quase sempre é 3º ano.

Ficou até bem mais aceitável essa mudança, pois os personagens estão mais crescidos, com o corpo maior. No livro algumas histórias são até meio chocantes pra uma turma nova, principalmente a Mitsuko Souma. E o fator de jovens terem que matar os colegas é totalmente pesado. Ia ficar difícil pra representar garotinhos em um ambiente adulto, pra algo visual. Então o mangá mais uma vez complementa o livro.




Shinji e sua colega. Você pode perceber logo que o estilo é bem diferente
O mangá - Angels’ Border
O título foi um sucesso, talvez não tanto pelo Brasil. Aqui é um nome bem alternativo. Mas nos States não faltam referências, no livro vem uma citação de Stephen King. E como foi inclusive divulgado pela mídia, Quentin Tarantino elegeu o filme como o melhor segundo sua opinião!

Seguindo esse frisson, não podiam deixar de fazer mais produto. O autor segundo informações no próprio livro não fez mais nenhuma obra, pelo menos de relevância. Battle Royale foi a única.

Aparentemente o roteiro de Angels’ Border é do criador mesmo, Koushun Takami, inclusive no final tem um texto dele falando que… ainda estava vivo! Também vem um script.

Essa edição é composta de duas histórias relacionadas ao grupo de meninas que se refugiou em um farol. Assim como no mangá existem muitos subtextos, aqui apenas fizeram isso com 3 garotas das várias que estavam lá.

A primeira é bem enfadonha, só após uma parte do início que começa a engrenar. Uma história relativamente inimaginável pra quem leu o gibi e muito menos pra quem leu o livro.

As protagonistas são duas garotas, em especial uma, que nutre um amor platônico e se considera uma “pervertida”. O roteiro é basicamente isso, as inúmeras divagações suas pela colega, que em momento algum revela o que sente. Algo difícil!

A segunda os protagonistas são o Shinji Mimura e a colega do farol. Shinji é um dos melhores personagens da história, inteligente, tem a fama de estar com várias garotas e realmente está. A garota é tímida e por acaso encontra o Shinji e passam o dia juntos pela cidade. É super divertida, tirando o peso da primeira história. A trama se passa no 2º ano, um ano antes deles entrarem no Programa.

Algo curioso é que são dois ilustradores diferentes do primeiro mangá, um pra cada história. E o estilo é outro! Enquanto no original o tom é bem adulto, com bastante expressividade. Aqui é mais suave e acessível.

Vale notar que os personagens são mais jovens, adotando um intermediário entre o 9º ano do Fundamental do livro e o 3º ano do mangá. No 3º ano do primeiro quadrinho eles já estão bem crescidinhos.

Enquanto vários personagens na primeira revista têm uma relevância, aqui o papel é totalmente invertido. São somente poucos protagonistas, afinal é só um volume. Mas outros aparecem rápido, você termina ficando curioso pra ver como seriam em outra arte, porém não dá pra ver muito. Divertido que o tutor do programa, que ninguém gosta, o Sakamochi, está totalmente diferente da primeira versão.

Este spin-off foi lançado pela NewPOP. A edição, até por ser mais nova, tem um capricho diferente da Conrad. A capa é boa e as folhas idem. O encadernamento tá bom, mas ainda não perfeito, porém tá excelente!




"Kitano contra 42 estudantes" e não "42 estudantes contra Kitano"
O filme - Batalha Real (Battle Royale)
Sem dúvida um dos maiores divulgadores foi o filme. Elogiado pelo Quentin Tarantino, notícia espalhada pelos meios de comunicação. Mas o filme não é tão bom quanto a obra original e não chega perto do mangá. Provavelmente pela temática pesada muitas cenas foram omitidas, mas tem vida própria.

O mangá não é recomendável ler antes do livro. Mas o filme pode ser visto sem ter lido nenhum dos dois. Afinal muita coisa foi transformada. Na leitura os personagens são descritos, mesmo os secundários. No filme é tudo muito rápido, alguns ficaram descaracterizados, como o Kiriyama e outros, e o grupo do Shinji.

O Shuya continua naquele jeito sem graça, sem muita atitude. Porém por ser uma obra japonesa, é meio estranho (ou normal) que tenham adotado o ritmo do cinema pop de lá, com atuações e cenas caricatas, sem muita profundidade. Mesmo cenas violentas não são muito fortes.

E é praticamente uma mídia independente. O filme explica a razão do programa Battle Royale, ainda que não seja muito plausível. No livro e mangá não há exatamente um motivo, tirando o fato de ser uma nação autoritária e cruel. Porém no filme começa explicando que o país não está numa situação boa, superpopulação, desemprego e uma juventude indisciplinada são problemáticas de relevância.

Alguém que cativa bastante no longa, ironicamente, é o grande vilão das obras escritas. O “tutor” Sakamochi/Kamon (livro/Conrad), que sabe lá por que tem outro nome (?) na produção. Aqui é chamado de Kitano, no começo ele realmente parece o badass motherfucker que quer que todo mundo se foda, atendendo a expectativa! Porém no decorrer vemos que ele não é tão culpado, é um homem sofrido, sem muito motivo pra ser feliz. Esse sim deveria ganhar o Oscar! Também é engraçado/comovente que possui um tique no rosto, um movimento que parece meio involuntário, piscando o olho e contraindo a face. Salvou o longa! E ainda mudou totalmente a história original.

Outro que se destaca é o personagem que no mangá aparece recorrente em flashback e no livro apenas na lembrança de Shuya, o Kuninobu (Nobu). O garoto é um belo exemplar de pentelho, no mangá e livro aparece timidamente, porém grande amigo de Shuya. Aqui também é um grande amigo, porém é a demonstração de estudante que não quer nada, mesmo com sua pequena participação no filme ganhou destaque.




O segundo filme na verdade foi mal recebido. Porém tem cenas melhores de violência e é bem engajado
O filme 2 - Battle Royale II: Réquiem
Seguindo o sucesso, tá faltando o quê? Vamos fazer um continue!

Dessa vez mudaram a temática do programa BR, felizmente capricharam na continuação. Não foi só “vamos faturar em cima disso!” (bom, literalmente terminou sendo). Este filme mostra uma nova maneira para uma franquia. A disputa é diferente, com cenas violentas bem melhores que o antecessor.

De novo temos um “instrutor” vilão, esse aqui também com seus pesares e razões. Mas no filme há um certo engajamento, bem óbvio e melhor que o antecessor.

Começa com “Torres Gêmeas” sendo destruídas, algo claro pra sua época, o filme é de 2003. A temática é terrorismo, na história original vários diálogos são contra o governo, dizendo ser inimigo do povo e os personagens comumente falam de atacá-lo.

Pois bem, aqui se concretiza. Mas não defende nenhum dos lados, afinal os dois podem sair perdendo. E há críticas contra os EUA. Então acertou em cheio em tratar um assunto que era atual na época e fez bem feito.




Ordem recomendada de acompanhamento
Caso não tenha lido o livro ou mangá, repetindo, você pode ver os dois filmes sem medo. Os textos se aprofundam muito mais, mostrando conteúdo que não está nem de perto nos filmes.

A ordem recomendadíssima é livro e depois mangá. A única coisa que fica faltando pra quem lê o livro é não ver os personagens do quadrinho, em especial o Kiryama, e outros também. Pois o ilustrador os retratou muito bem!




Observação: além de todos esses títulos, que ainda teve divulgação no Brasil, na internet é possível achar informações de um segundo quadrinho japonês. Chamado Battle Royale II: Blitz Royale. Revista que não chegou aqui.

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